A Venerável Figura do Mestre Cedaior (1872-1943)
(Compilação organizada por Thoth, 3º Patriarca da Igreja Expectante, a partir de biografia elaborada pelo 2º Patriarca, Sri Sevãnanda Swami, na obra “O Mestre Philippe, de Lyon”, Volume II, páginas 139 a 151, e publicada em La Iniciación, revista mensal do Grupo Independente de Estudos Esotéricos, editada em Buenos Aires, Argentina, numa série de sete artigos, com início em março de 1943.)
PARTE 3 de 6 - Publicada originalmente em Português no jornal oficial da Igreja Expectante, O Semeador da Nova Raça, AGO-SET/1978.
Como dizíamos, em 1895 achamos o irmão Cedaior, já S::I::, organizando Lojas Martinistas no interior da França, inspecionando e instruindo outras.
Também nesta época se dirige ao Egito em missão oficial do governo francês como investigador em matéria científica (acústica) e arqueológica (estudos das formas instrumentais dos antigos egípcios). Porém, esta missão oficial obtida, diga-se de passagem, por influência de irmãos Martinistas das esferas oficiais, pois que, na realidade, Cedaior é enviado ao Egito em missão confidencial da Ordem Martinista e da Ordem da Rosa+Cruz Kabalística para entrar em contato com certas Fraternidades de lá e verificar “in loco” certos estudos sobre simbolismo e cerimoniais iniciáticos.
Os resultados de sua missão oculta não foram jamais publicados, porém se sabe, nas Ordens, que permitiram a Sédir e a Papus documentar melhor certos pontos da antiga estrutura dos Templos e de seus ensinamentos, pois Cedaior percorreu desde Damieta e Alexandria até Karnak, tendo permanecido longo tempo no Cairo, onde manteve grande amizade com Mariette-Bey, que era o conservador do Museu do Cairo e que lhe prestou relevantes serviços.
Sua missão oficial foi coroada de êxito, pois o governo francês, não podendo, devido à idade de Cedaior, outorgar-lhe a Legion de Honor, premiou os seus trabalhos com a Palma Oficial da Academia.
Seu regresso a Paris marca a época de sua vida na qual mais ativamente se ocupará da Maçonaria, Martinismo e Orientalismo.
Seus trabalhos, desde 1898 até mais ou menos 1909, se orientam sucessivamente na forma seguinte, junto com os irmãos de que falarei na continuação: Com Sédir (que fora seu iniciador, como já vimos) fez uma quantidade de experiências destinadas a verificar pela psicometria e pela visão astral direta da “Memória da Natureza” as buscas feitas no Egito e no Líbano. Cerca de mil fotos servem de documentação a tais trabalhos, assim como pequenos fragmentos dos Templos de Karnak, das pirâmides e da Esfinge, assim como de “certos outros Templos Subterrâneos do Egito”.
Algumas irmãs Martinistas, psicômetras, se propuseram a servir de instrumentos de pesquisa e verificação de assuntos magnéticos. Entre eles a Irmã Allopair, minha Mãe, também Martinista que, além de talentos de grande pianista e compositora, tinha notáveis dons “psicométricos”. Ela, ao colocar uma pedrinha ou um fragmentozinho na testa, proveniente de um lugar ou monumento do Egito, passava a “ver” e a descrever, minuciosamente, e indo para trás no tempo, as gentes, acontecimentos e até cerimônias ou civilizações que tenham sido “presenciadas” por aquele fragmento.
Com Moutin, de Rochas e outros Cedaior faz experiências sobre exteriorização da sensibilidade, da motricidade e sobre levitação de corpos vivos, chegando, entre outras experiências, a fazer levitar em posição vertical um cidadão inglês que por certo levou um susto ao se ver suspenso no ar com os pés a uns 30 centímetros do solo.
Cedaior, com Oswaldo Wirth, faz um ciclo de conferências pelas Lojas Maçônicas de Paris e arredores para estimular o estudo da Tradição, do Simbolismo e do Esoterismo. É lamentável ter que registrar o quase absoluto fracasso de tal campanha: A Maçonaria Francesa quer ser uma “potência social e política” e o estudo da Ciência Oculta e a superação individual não mais interessam às Lojas... pois se deseja “reformar a humanidade” por decretos... como se isso fosse possível. No entanto, isso não impede que Oswaldo Wirth, Cedaior e outros recebam, das ditas Lojas, formosas medalhas comemorativas do Ciclo de Conferências, suave mania bem européia e, sobretudo, bem francesa de conceder condecorações... antes do “arquive-se”.
Com o martinista Champion e o maçom Boissy d’Anglas, seguindo as orientações de Papus, o qual mediante a vidência e outros meios ocultos lhes indica onde achar as fontes, Cedaior e outros formam o chamado “Comitê da Sobrevivência” e, depois de conseguir revolver os arquivos secretos da Biblioteca do Arsenal e da Polícia Judiciária, conseguem DOCUMENTAR o fato de que Luiz XVII, o “rei menino”, o infeliz Dauphin, o “Golfinho Perdido”, não foi morto na prisão “du Temple”, como afirmam os textos históricos, e que seus descendentes legítimos ainda vivem. Toda esta busca tem uma enorme importância, pois sua realização traz, simultaneamente, três resultados:
1º) Aclara o mistério histórico de sobrevivência do rei menino e, ao mesmo tempo, o aparentemente inexplicável fuzilamento do Duque de Enghien, que foi sacrificado justamente porque era partidário do regresso de Luiz XVII ao Trono de França. Aclara, também, certas misteriosas atividades de Josefina de Beauharnais, que, depois do seu divórcio com Napoleão, freqüenta, com o general Charrette, misteriosas reuniões cujas atividades eram tipicamente monarquistas;
2º) Obriga o governo francês a devolver aos descendentes de Luiz XVII sua nacionalidade francesa, seu nome civil real e reparar assim, na medida do possível, o sacrifício do “Golfinho” que viveu miseravelmente ou quase na Suíça, Prússia e, finalmente, na Holanda, onde morreu em Delft, com a idade de 63 anos, encontrando-se sua tumba na dita cidade;
3º) O resultado mais importante para a Ordem Martinista: fica moralmente reabilitada a atividade das sociedades iniciáticas durante a Revolução Francesa, pois, se por um lado fica evidente que muitos ritos Maçônicos foram arrastados para o lado popular e violento daquela “revolução”, de outra sorte a Ordem Martinista e outras ordens iniciáticas reais seguiam imutavelmente o ritmo “evolutivo” e tratavam de minorar o mal e a violência, como fez o próprio “Filósofo Desconhecido”, o Venerável Mestre Visconde Louis Claude de Saint Martin, que estava de guarda na prisão “du Temple” na noite em que se fazia evadir dela o pequeno rei, o Mártir da Revolução Francesa e o Mártir da Ordem Martinista, já que, de sua vida, que durou uns 63 anos, passou quase dois terços em várias prisões, como veremos quando estudarmos separadamente este interessante assunto, que foi durante muitos anos “um” dos segredos que a Ordem Martinista guardava zelosamente, pois nele estava a chave de compreensão do laço que a ligava à atividade de muitas seitas místicas em sua silenciosa luta contra a violência e a tendência material e popular que se instalaria cada vez mais nos ritos externos.
A atividade de Cedaior em Paris é, pois, essencialmente de colaboração com Stanislas de Guaita, Papus, Sédir, Barlet, Lermina e outros, na parte de busca sobre a Tradição, especialmente egípcia e oriental em geral, e de divulgação do simbolismo dos ambientes maçônicos e outros.
Sua atividade na França como Iniciador Martinista propriamente dito é limitada em quantidade, porém bons elementos são ligados por ele a nossa Venerável Ordem e, sendo hoje todos já falecidos, e personagens dos quais já não se falam mais no ambiente profano, podemos citar os ditos elementos de sua cadeia iniciática européia que foram:
1 CDR/A Hno. Allopair – Concertista de piano e psicometrista notável na época;
2 CDR/B Hno. Baudry – Dedicado ao estudo das tradições orientais;
3 CDR/C Hno. Jeho (René Oudeyer) – idem;
4 CDR/D Hno. Horéme – Poeta egípcio de grande valor literário e místico. Morreu jovem;
5 CDR/E Hno. Jarson – Místico do tipo de Sédir;
6 CDR/F Hno. Quinisset – Astrônomo especializado em fotografias celestes. Foi um dos diretores do Observatório de Juvisy, perto de Paris. Astrólogo e kabalista.
Esta corrente iniciática de Cedaior continuou na América do Sul, como veremos nos artigos seguintes, pois em 1910, como já dissemos ao iniciar esta série biográfica, o Irmão Cedaior iniciou sua Missão Pessoal, saindo para a América do Sul à procura de terra e gente de menos acumulação cármica, e onde a promessa de maiores ciclos de paz permitisse construir algo estável. Iniciava-se assim o cumprimento da profecia que o Mestre Gnóstico lhe fizera.