A Venerável Figura do Mestre Cedaior (1872-1943)
(Compilação organizada por Thoth, 3º Patriarca da Igreja Expectante, a partir de biografia elaborada pelo 2º Patriarca, Sri Sevãnanda Swami, na obra “O Mestre Philippe, de Lyon”, Volume II, páginas 139 a 151, e publicada em La Iniciación, revista mensal do Grupo Independente de Estudos Esotéricos, editada em Buenos Aires, Argentina, numa série de sete artigos, com início em março de 1943.)
PARTE 5 de 6 - Publicada originalmente em Português no jornal oficial da Igreja Expectante, O Semeador da Nova Raça, AGO-SET/1978.
No artigo anterior vimos que Cedaior havia feito uma longa viagem à Cordilheira dos Andes, onde fracassou uma tentativa de fundação de uma “Colônia Olímpica”, que seria localizada perto de Nahual-Huapi.
Regressa então Cedaior a Buenos Aires, onde se achava seu filho Léo Alvarez Costet de Mascheville (que então tinha o nome místico de JEHEL), que era, já desde alguns anos, ajudante do Mestre. Nessa época – 1921 – Cedaior toma uma resolução bem característica daqueles que confiam inteiramente em que “sempre tudo se cumpre como deve ser realizado”. Abandona definitivamente suas atividades urbanas e se prepara para uma nova viagem pela região dos Pampas e pela região Andina, que deverá depois leva-lo a fixar residência em Mendoza.
Ao partir de Buenos Aires deixa a seus raros discípulos a escolha de seguir ou não o caminho, a direção por ele indicada, e deixa a seu próprio filho, Jehel, em plena liberdade para seguir a “vida normal”, quer dizer, de criatura desejosa de realizar-se numa situação comercial e civil “brilhante” ou seguir o caminho áspero da Realização Espiritual. Nem sequer tem Cedaior esse paternal e humano “egoísmo” de querer levar consigo ou até seu ideal o seu próprio filho, apesar de este já há alguns anos se interessar profundamente pelas coisas iniciáticas. Antes de sair, sem dúvida, põe Jehel em contato com um Rosacruz alemão, doutor em filosofia e letras, membro de várias academias européias, e que havia abandonado tudo para levar uma vida de iogue errante no Continente Sul-Americano, em virtude de uma missão especial, de natureza espiritual, recebida. O dito iniciado, mui elevado, respondia civilmente pelo nome de WALTER BAUER. Tinha cabelos longos até a cintura e barba dourada que lhe davam um aspecto místico que a pureza de seus grandes olhos azuis, transparentes como os de um menino, completavam admiravelmente. Poderia ter naquela altura uns trinta e cinco anos e era casto desde o seu nascimento, o que já indica de que se tratava de um ser muito evoluído, já que fisicamente era de uma perfeição rara de forma, proporções e beleza.
Cedaior chega, pois, em princípios de 1922, a Mendoza, onde se encontra com Jehel, que já havia chegado, tendo feito uma longa viagem a pé durante meses seguindo Walter Bauer, levando uma vida parecida com a dos “Sanyasines” orientais: sempre a pé, dormindo ao relento, apesar das geadas, e comendo o que a natureza oferece ou o que a caridade outorga ao viajante. Walter Bauer, a partir de certo ponto do itinerário, tomou outro rumo, no qual não desejava ser acompanhado por ninguém. Parece oportuno ressaltar do pouco, muito pouco do que Bauer dissera, que um dos objetivos de sua missão era de servir de PONTO DE IRRADIAÇÃO de certas correntes de força espiritual que começavam a fixar-se na parte sul da Argentina.
Em Mendoza, utilizando suas possibilidades como professores de idiomas e música, Cedaior e Jehel fazem estudos sobre sismologia e, naquela época, Cedaior prevê e publica com antecipação os dias e as horas de grandes terremotos, como o do Japão (1921), o da Bolívia, que quase destruiu os mais importantes edifícios de La Paz, e o de San Rafael, Mendoza – sem contar muitos outros de menor importância – avisando sempre antes aos governos respectivos... que nunca deram – é claro! – a menor atenção!
Também prosseguiu nos estudos sobre “astrometeorologia”, chegando a predizer o tempo: secas, chuvas, ventos, tormentas, com bastante precisão, para qualquer zona do mundo da qual se conhecesse bem as determinadas kabalístico-astrológicas. Esse ramo do saber está longe, aliás, na minha opinião, de ter sido resolvido pelo Mestre Cedaior, que apenas pretendeu orientar a investigação dos estudiosos.
Todos os terremotos dos quais falamos foram preditos com uma exatidão que chamou a atenção de várias pessoas que rodeiam o Mestre e um grupo entusiasta começa a interessar-se por fundar em Mendoza uma Colônia como projetara Cedaior, desde antes, como já vimos. Foi possível também, para Cedaior, salvar a vida do então governador de Mendoza, Dr. Lencinas (mediante visão antecipada de um atentado, cujo autor foi desarmado no gabinete da vítima, o que comprovou o aviso...). Com isso certa proteção oficial é dada ao Mestre e, pouco tempo depois, o Dr. Lencinas lhe oferece de presente grande parte do belo Vale de Sonda, para estabelecer sua colônia. No entanto, uma das condições é a de aguardar quase dois anos para que o governo provincial faça os trabalhos de canalização que permitam a irrigação do vale. Cedaior, já sozinho, pois Jehel havia partido para a França em missão especial de retomar contato com as Ordens Tradicionais (Martinismo, Rosa+Cruz Kabalística e Les Veilleurs) resolve não aguardar tanto tempo e, juntamente com alguns amigos e discípulos, entre os quais lembraremos o fiel Yanácare, comprar um terreno na zona de San Rafael para estabelecer a primeira Colônia.
E é neste momento quando se produz um fato que tem enorme importância, pois mudará toda a vida e a realização do Mestre. Cedaior mantinha correspondência já havia muito tempo com a iniciada IDA HOFFMAN, conhecida nas ordens iniciáticas como Sóror Peregrina, por ter sido a colaboradora mais íntima de THEODOR REUSS (Fráter Peregrino), o sucessor de Rudolf Steiner. Ida Hoffman (rosacruz, co-maçom, membro da Ordo Templi Orientis - O. T. O.) havia conseguido por correspondência a promessa de Cedaior, de colaborar com ela, se chegasse a vir ao Continente Sul-Americano, para formar uma Colônia Olímpica e Naturista, pois Ida Hoffman conhecia bem tais organizações, por ter sido colaboradora íntima de HENRI OEDENKOVEN, o fundador do célebre sanatório e colônia naturista de “Monte Veritá”, situado perto de Ascona. Falaremos sobre esta pessoa mais tarde.
Cedaior, escravo de sua palavra, recebe EXATAMENTE NO DIA em que ia assinar a escritura de compra do terreno para a colônia de Mendoza, uma carta de Ida Hoffman, comunicando que já se encontrava no Brasil, que já havia comprado o terreno e que ali o esperava, segundo o convencionado entre ambos. Não resta, pois, a Cedaior, outro caminho senão o de partir para o Brasil e deixar a seus poucos companheiros de Mendoza a tarefa de realizar o que havia sido projetado, segundo seus ensinamentos. Parte para o Brasil passando por Buenos Aires, em cuja cidade tem um rápido e último contato com seus restantes fiéis discípulos, entre os quais a Sra. Rose de Robinson, já citada, e o Dr. Miguel Angel Márquez, de quem voltaremos a falar oportunamente.
De passagem, rumo ao Brasil, Cedaior desembarca em Montevidéu, em cuja cidade o obrigam a permanecer por algumas semanas e onde fez grandes e profundas amizades com as senhoritas de Roldán, com as quais se ocupa do sistema musical de Menchaça, idéia que o Mestre não abandonará nunca mais, como veremos, e com Juan Geiss, Queirolo, Cotello, de la Sierra e muitos outros, tanto no ambiente teosófico, no qual dá várias conferências, como no ambiente maçônico e espiritualista em geral. Vários laços daquela época subsistem ainda.
Finalmente, em 1923, chega ao Brasil, no estado de Santa Catarina, na cidade de Joinville, na qual, com Ida Hoffman, estabelece o que ela alegremente chamava “o Quartel General Olímpico”. Fecundas terras, com a superfície de 120 hectares (24 alqueires) compradas a 40 quilômetros da cidade, num lugar acidentado e pitoresco de nome Palmital (hoje pertencente ao município de Garuva, extremo nordeste do estado), e que se chamou a Colônia “Monte do Sol”.
Iniciam-se os trabalhos e um jovem alemão (Tuitenhof) se encarrega de tomar conta das primeiras plantações de arroz e cortes de madeira do monte da Colônia. Porém, procede sem bom senso e só abusa da hospitalidade de Ida e Cedaior, que trabalham dia e noite com lições e tocando em orquestras até de cafés para sustentar a incipiente colônia. É bom ter em conta que naquela época Ida Hoffman tinha uns 60 anos de idade e Cedaior, 51. Que ambos são europeus, de climas frios e realizam este esforço em um lugar de clima subtropical, com um entusiasmo e um espírito de sacrifício admiráveis. Como são ambos vegetarianos, resistem mais facilmente ao clima da cidade, porém na colônia a febre malária, endêmica naquela região, já se havia feito sentir.
Antes de abandonar este período é bom citar um fato notável para aqueles que sabem observar como “Lá de Cima” somos constantemente guiados. Quando Cedaior estava em Mendoza, um pastor alemão, escritor conhecido, o Reverendo WILHELM BREPHOL – casado com uma irmã de Ida Hoffman – mas que não tinha relação alguma nem sequer epistolar com Cedaior, já havia enviado por correio sua enorme biblioteca a Mendoza, onde desejava fixar residência. Quando Cedaior parte de Mendoza, SIMULTANEAMENTE e sem que houvesse aparentemente razões poderosas para isto, o pastor Brephol muda de idéia, faz voltar os milhares de livros enviados a Mendoza e inicia trâmites com as igrejas que representa como missionário para ser enviado ao Brasil, o que ocorrerá em 1925. Veremos mais tarde a importância desta mudança, indiscutivelmente ORDENADA pelos que guiam constantemente nossos passos, ainda que nem sempre e até freqüentemente não tenhamos consciência disso, se não somos ou iluminados ou observadores minuciosos.