A Venerável Figura do Mestre Cedaior (1872-1943)
(Compilação organizada por Thoth, 3º Patriarca da Igreja Expectante, a partir de biografia elaborada pelo 2º Patriarca, Sri Sevãnanda Swami, na obra “O Mestre Philippe, de Lyon”, Volume II, páginas 139 a 151, e publicada em La Iniciación, revista mensal do Grupo Independente de Estudos Esotéricos, editada em Buenos Aires, Argentina, numa série de sete artigos, com início em março de 1943.)
PARTE 6 de 6 - Publicada originalmente em Português no jornal oficial da Igreja Expectante, O Semeador da Nova Raça, AGO-SET/1978.
No final de 1924, mais exatamente a 30 de novembro de 1924, chega ao Brasil o irmão Jehel (Sri Sevãnanda Swami), que regressa de uma estada de dois anos na Europa, onde realizou três coisas: seu serviço militar, pagando assim à França sua primeira educação; a missão recebida de observar o estado das Ordens Martinista e Rosa+Cruz Kabalística no Velho Continente e, finalmente, casou-se com uma parisiense, pessoa sumamente pura e mística, que nas ordens ficou conhecida como a Irmã Lothusia. Inicia-se, com o seu regresso, uma nova época de atividades.
Efetivamente, Jehel e Lothusia vão se instalar em plena selva, na “Colônia Monte Sol”. Porém, em pouco tempo, dada a mais absoluta preguiça dos poucos “colonos naturistas” que se haviam apresentado e a intensidade da febre malária que reinava, atacando aos colonos, a Lothusia e a Jehel, apesar de serem todos vegetarianos e quase exclusivamente frugívoros, Jehel se convence da inutilidade de lutar em tais condições de inferioridade.
Cedaior também se cansa de lutar contra o clima demasiado quente e, de comum acordo, todos se mudam para os planaltos do Paraná, para a bonita cidade de Curitiba, na qual Cedaior já tinha relações por correspondência com o poeta e filósofo Dário Veloso.
Em Curitiba, Jehel insiste na revivificação da Ordem Martinista e, como Dário Veloso (XDR/8 era S:: I:: IV) iniciado por Papus e até tinha sido nomeado, em 1904, por carta patente nº 141, como Soberano Delegado Geral para o Brasil, pelo Supremo Conselho, presidido por Papus, Jehel o convida a tomar parte em tal movimento de reorganização da Ordem Martinista no continente.. O irmão Dário, que já havia tentado, sem grande êxito, algo semelhante em anos muito anteriores, e havia abandonado a tudo para dedicar-se unicamente à fundação de seu INSTITUTO NEOPITAGÓRICO, declara não achar-se disposto a novas lutas, em face de sua idade e estado de saúde e as funções de seu cargo foram por ele deixadas ao cuidado de Cedaior também.
Permaneceu, sem dúvida, na ordem sendo sempre um dedicado amigo de Cedaior e Jehel. E é com emoção que oferecemos hoje a nossos leitores uma histórica fotografia, tirada em 1926, na Biblioteca “Templo das Musas” do Instituto Neopitagórico. Esta imagem tem hoje um valor emotivo apreciável, pois os três iniciados que nela figuram já regressaram ao Astral: De pé, o Mestre Cedaior ao violino, executando o final de uma obra de Haendel. Ao piano, Ida Hoffman. Sentado: Dário Veloso.
Iniciaticamente, as características destes três Mestres são estas:
Dário Veloso (Apolônio): C:.K:.(30:.) N:./P:. S::I:: IV
Ida Hoffman (Peregrina): 33:. O:.T:.O:. R+C (escola de Steiner-Reuss)
Cedaior: 33:. S::I:: VII – Dr. Kab:. – M.S.T. – C:.E:.P:. – O.E.O. – O:.T:.O:. – Bispo da Igreja Gnóstica - Soberano Delegado Geral da Ordem Martinista - Presidente da Ordem da Rosa+Cruz Kabalística (as duas últimas, para a América do Sul).
Durante o ano de 1925, Cedaior e Jehel iniciam a alguns novos Martinistas e vários deles são hoje ativos iniciadores, por sua vez. Intercalam-se a esta altura da vida do Mestre dois fatos novos, ambos de suma importância:
1º) Ida Hoffman nunca tinha perdido a esperança de conseguir estabelecer a colaboração entre Cedaior – rico espiritualmente e pobre materialmente – com o ex-fundador do Sanatório Naturista de Monte Veritá, o milionário belga Henri Oedenkoven. Precisamente no ano de 1925 este último chega ao Brasil e, depois de percorrer grande parte do enorme país num Ford de campanha, havia adquirido grande extensão de terras no estado de Goiás.
2º) Nesta mesma época chegava a Curitiba a família do Pastor Brephol, cuja filha mais velha, hoje nossa Irmã Lorelair (nome místico da senhora Emma Costet de Mascheville) e Cedaior se reconheceram rapidamente como seres destinados a unir-se, como efetivamente o celebraram em pouco tempo. Lorelair se constituiria desde então na mais admirável companheira que o Mestre pudesse haver sonhado, já que seu valor como mulher, Iniciada e Mãe é digno de todas as homenagens, além de sua extraordinária resistência a todos os embates da vida, como o provaria depois na existência de contínuas lutas materiais junto a Cedaior, a quem daria todavia cinco formosos filhos, 4 homens e por último uma filha.
Em 1926, depois de um “Conselho Deliberativo” no qual o único voto discordante foi o de Jehel, se resolveu tentar a fundação de uma Colônia em Goiás e marcharam em “vanguarda” para lá Cedaior, Lorelair, Lothusia e Jehel, seguidos de perto por outro Martinista, o (já falecido agora) Irmão Nerval e sua família. Em Goiás se iniciaram alguns raros elementos para o Martinismo e chegou a fundar-se uma loja (Resp. Loja “Papus”, Jehel, Fil... Desc... ).
Da Colônia resultou um grande fracasso, pois o naturalista belga não cumpriu com suas promessas, nem de ordem doutrinária, nem de ordem material. Basta dizer que depois de terem passado até fome em Goiás, Nerval e família regressaram a São Paulo; Lorelair e Cedaior se foram outra vez para o estado do Paraná e Jehel e Lothusia permaneceram algum tempo mais em Goiás, até pagar as dívidas que existiram em virtude do abandono material provocado por Oedenkoven.
É lamentável que a necessidade de ser sintético neste ensaio biográfico do Mestre Cedaior me impeça de relatar passagens, umas belas, outras quase trágicas, de suas lutas em tais condições, em climas tão difíceis de suportar para um europeu de alguma idade e com as contínuas desilusões com seus colaboradores.
Depois de instalar-se por algum tempo na Lapa (região metropolitana de Curitiba, Paraná), lugar no qual Cedaior recebe a notícia da perda total da biblioteca maravilhosa reunida por ele, Peregrina e Jehel, sobrevém também o falecimento de Ida Hoffman, que não pôde ter em seus últimos meses de vida a felicidade de ver realizado seu ideal de colônia naturalista-espiritualista.
Cedaior já tem mais um filho e Jehel uma filha quando ambos, em Curitiba (novamente) organizam mais amplamente o Martinismo, que já conta com Iniciados em vários estados do Brasil e com uma Loja funcionando em Curitiba (Resp. Loja Hermanubis, Fil... Desc... Jehel) que havia sido fundada em 1925, antes da saída para Goiás.
Desde 1927 até 1931 Cedaior e Jehel vivem quase sempre em cidades diferentes e o Mestre trabalha em seus manuscritos perdidos sobre a sismologia, a nova raça, a doutrina olímpica, etc., enquanto crescem os filhos que em 1931 já são dois.
Em 1931, ambos se reúnem novamente no sul do Brasil, primeiro em Caxias, depois em Porto Alegre. Nesta altura começa o movimento mais forte dentro do Martinismo. Cedaior está agora, além de seus estudos pessoais sobre a nova raça, ocupado em tratar de dar à Maçonaria do Brasil uma renovação de espiritualidade e, sobretudo, de espírito de união. Não insistiremos sobre as tais tentativas, nas quais muitos Martinistas receberam ordem de trabalhar ativamente e o fizeram, no entanto, sem conseguir grandes resultados.
Em 1932 Cedaior é ajudado materialmente pela “sorte grande” da loteria (comprada em um dia de miséria absoluta, por indicação de Lorelair, que já era nesta época excelente astróloga) e vivem assim algum tempo de relativa tranqüilidade em uma casa de campo que constroem nos arredores de Porto Alegre, cidade na qual nascem seus três últimos filhos.
Sua atividade iniciática Martinista é relativa, porém sua influência espiritual é cada vez maior, pois seu amplo ponto de vista já lhe dificulta a adaptar-se a um método determinado. O que ele busca é desenvolver nos seres a percepção do caminho humano pelas reencarnações em condições CADA VEZ MELHORES AO SER CADA VEZ MAIS CONSCIENTE. Por isso, a Procriação Consciente e a preparação de Mães e Pais dispostos a senti-la e vivê-la permanecerão sua preocupação fundamental.
Em 1936 terminam para o Mestre Cedaior duas atividades: perde sua casa de Porto Alegre, sua situação neste lugar se torna difícil e é convidado por um grupo de espiritualistas para ir residir em São Paulo. Antes de mudar-se para esta cidade, entrega ao Irmão Jehel o cargo de Presidente da Ordem Martinista e, de comum acordo, decidem que o Martinismo se desinteressará do esforço feito desde alguns anos por revitalizar a parte espiritual da Maçonaria e voltará a sua finalidade única traçada por Papus: “A difusão do esoterismo, principalmente cristão, e o estudo dos fenômenos da natureza”.
Cedaior, Lorelair e seus filhos passam, pois, a residir durante dois anos e meio na cidade de São Paulo, na qual, se por um lado suas desilusões são muitas, pois grande parte dos espiritualistas que os haviam convidado a ir para lá mostram posteriormente pouca disposição por realizações verdadeiras, por outro lado é a época em que vários Martinistas de São Paulo rodeiam o Mestre de um carinho especial e se assentam assim as bases do que mais tarde será o movimento Martinista daquela metrópole brasileira.
De outra parte, e no que pese as constantes dificuldades de ordem material, o Mestre Cedaior continua divulgando a Doutrina Olímpica amplamente e se dedica ao estudo de problemas transcendentais de aspecto matemático e filosófico da escola platônica, resolvendo, entre outros, o famoso teorema de “Fermat”, ou seja, o dividir um cubo em dois e em três cubos, trabalho que algum dia será publicado com suas conseqüências filosóficas e outras.
Lorelair, por sua vez, se torna astróloga de uma amplitude e profundidade cada vez maiores, fazendo predições sobre acontecimentos mundiais e estudos sobre a biologia da evolução humana e cósmica pela via astrológica, que são interessantíssimos e se religam diretamente a real “astrosofia” que Saint Yves, Barlet e Papus haviam reintroduzido nos altos graus do Martinismo. É interessante notar, sem dúvida, que Lorelair realiza tudo isto quase sem partir das bases de trabalhos de seus predecessores, fazendo suas pesquisas somente pela observação, meditação e intuição pessoais, sob os auspícios dos Veneráveis Mestres e incentivada por seu maravilhoso companheiro e Mestre Cedaior.
Em 1939, Jehel havia organizado novamente a ORDEM MARTINISTA DA AMÉRICA DO SUL, à semelhança e miniatura daquela que o Venerável Mestre Papus fizera em 1887 na Europa e já o Grande Conselho, situado naquela época em Porto Alegre, consegue reunir condições para que o Mestre Cedaior, Lorelair e sua família passem a residir naquela cidade, na qual os trabalhos seguem seu curso, com a Loja Central do Martinismo, que tinha tomado como título distintivo o nome de “CEDAIOR”.
É na dita cidade de Porto Alegre que Cedaior terminará seus trabalhos já citados sobre o “cubo” e problemas subjacentes, assim como a preparação de vários elementos que irão seguir sua obra em seus diversos aspectos. Tudo isto até chegar à época na qual, como dissemos no primeiro artigo, pronuncia a frase “Terminei o que devia fazer desta vez, agora darei uma espiada lá em cima e depois voltarei”, frase serena dessa linguagem simples com a qual os Iniciados Ocidentais costumam apresentar sem ostentação ensinamentos às vezes muito importantes. Efetivamente, pouco depois Cedaior deixava seu veículo “de Mascheville” para regressar ao Plano Espiritual (em 22 de janeiro de 1943) e continuar ali sua tarefa, a serviço da Cavalaria Cristã (Rosa+Cruz) da qual falava Papus.
Será suave a seu coração, Carolei, lembrar alguns aspectos do meu Mestre, que também pode ser o seu, ou seja: um dos caminhos que levam ao MEM PHILIPPE...
Mestre Cedaior tinha tipo celto-latino. Esbelto, de cútis tão alva que só os Jupterianos a têm, cabelos castanhos, olhos cor de avelã que às vezes tomavam nuances cinzento-azuladas... Como todos os nascidos com Ascendente Sagitário e, bom tema, gostava das coisas singelas, um pouco primitivo até. Amava a Natureza em forma ilimitada. Adorava o Egito como a Índia, e a França como o Brasil. Tinha respeitosa amizade por Papus e Sédir, adoração por Mestre Philippe, a quem chamava de Amo, com certa reserva sorridente...
Foi, para mim, por toda a sua vida, o maior, o melhor, para não dizer o único amigo, embora fôssemos tão diferentes. Era um artista e um precursor. Tinha o futuro sempre presente. Eu sou ainda da velha raça e apóio no passado um presente que para mim é tudo. O Mestre Cedaior tinha predileção por música sacra, grave. De Nardini a Beethoven; de Bach a Mozart. Suas composições pessoais são essencialmente bucólicas de forma, angélicas ou elegíacas de sentir.
Amava muito as flores. Lembro ainda os longos passeios na França e, mais tarde, nos quais ele colhia o “Églantier” (rosa-de-cão) cujas quatro singelas pétalas de Rosa Silvestre, com o dourado centro de geração, o encantavam.
Antes de terminar esta série, tão sintética – demasiadamente sintética – de artigos sobre a vida objetiva do Mestre, devo completar o quadro de seus iniciados Martinistas. Já citei os 6 Martinistas que Cedaior havia iniciado na Europa. Na América do sul, sua corrente não foi muito ampla nem numerosa, mas, como veremos, foi fecunda pela proporção muito elevada de elementos que chegaram a SERVIR à Ordem, quer dizer, ao Ideal!
Efetivamente, aos 6 Iniciados da Europa, Cedaior acrescenta a sua corrente, na América do Sul, somente mais 14 Iniciados. Destes, cinco já são Iniciadores com funções importantes na Ordem, e sabemos que, no Martinismo, tais funções não são “títulos decorativos”, senão RESULTADO DE MUITO TRABALHO E OBRIGAÇÃO DE TRABALHAR MAIS AINDA DEPOIS DE OBTER OU ACEITAR TAIS FUNÇÕES:
07 CDR/3G – JEHEL – Atual Presidente do Grande Conselho da Ordem;
08 CDR/3H – de NERVAL – S::I::III, já falecido;
09 CDR/3I – XBRGS/B-4 – Já Iniciador e Delegado da Ordem na cidade de São Paulo;
10 CDR/3J – BRDDL/C-4 – Já Iniciador e Delegado da Ordem na cidade de Curitiba;
11 CDR/34 – XLRLR/D-4 – Já Iniciador e atual membro do Grande Conselho;
12 CDR/3L – de FERSEN – Já felecido;
13 CDR/3M – Estudante;
14 CDR/3N – PARACELSO – Já S::I::III dedicado à divulgação da Doutrina Olímpica;
15 CDR/3O – TTH/E-4 – Já Iniciador y atual Presidente de Corporação Martinista;
16 CDR/3P – Fiel Martinista, atual Del::Mart:: em Porto Alegre;
17 CDR/3Q – Atual Del::Mart:: em Rivera, dedicado com carinho a curas e estudos;
18 CDR/3R – Dedicado Martinista já adiantado;
19 CDR/3S – Dedicado Martinista já adiantado;
20 CDR/3T – Martinista Livre.
Basta meditar sobre esta lista de Iniciados para verificar que o Mestre Cedaior soube eleger seus "Seres de Desejo" e conduzi-los a alimentar o Fogo Sagrado, a realizar-se verdadeiramente e, coisa especialmente importante, por SER A AUTÊNTICA CARACTERÍSTICA DO MARTINISTA: REALIZAR PARA OS DEMAIS, DANDO SEMPRE TUDO O QUE RECEBEU, buscando ativamente como dá-lo, adaptá-lo, fazê-lo fecundo e vivo.
Por isso conseguiu o Mestre Cedaior que alguns de seus Iniciados se tornassem não somente Iniciadores, por sua vez preenchendo com eficiência funções de constante sacrifício na nossa Venerável Ordem, como também conseguiu que alguns tantos se fizessem dignos de ingresso na "Ordem Kabalística da Rosa+Cruz", isto é, ENTREGASSEM SUA VIDA à "CAUSA", VIVENDO PARA O IDEAL EM FORMA TOTAL E DEFINITIVA.
Os que conhecem a história secreta da Ordem, a vida pessoal do Mestre e o porquê e como de muitas de suas realizações, sabem que preço de sacrifício material, moral e de toda espécie teve que pagar para SERVIR realmente, e é por isso que, ao pronunciar, outra vez, ao fim deste último artigo, a saudação que lhe dirijo em nome de todos os Rosa+Cruzes Kabalistas e de todos os Martinistas, que fique claro que não é apenas mais uma fórmula vã, é a evocação de uma realidade sobre este Plano e o Outro: Cedaior, querido Mestre que sempre Serviste o melhor possível, ao preço de qualquer sacrifício, a SÉDIR – AMO – PAPUS – VAYUSATTWA.
Que as Rosas floresçam sobre a Cruz
De tua tumba, como floresceram na Luz
Emanada de teu Sacrifício, de teu Coração,
E siga fecunda a trajetória de tua Missão.
OM et AMÉM.