Por Thoth, 3º Patriarca Expectante
Eu estava meditando quando bateram suavemente à porta do escritório. Ischaïa sabe que não gosto de ser interrompido e, para que tal fato ocorresse, era necessário que fosse por algum motivo imperioso. Deixei passar algum tempo para retornar ao estado normal e logo em seguida autorizei que entrasse. A porta foi sendo aberta lentamente, e ela disse:
“Querido, estão aqui duas pessoas que têm necessidade premente de falar com você. E, como não são daqui, precisam voltar, fui forçada pelas circunstâncias a interrompê-lo”. Assim se expressando à guisa de desculpa, esperou que eu mandasse trazer à minha presença os interessados.
— Pois bem, minha filha, faça entrar as pessoas.
Ischaïa, sem mais detença, introduziu o casal.
Depois das devidas apresentações e alguns salamaleques, pedi que ocupassem os assentos indicados.
Mestre, - começou o homem a se expressar – perdoe-nos por ter vindo de tão longe perturbar as suas meditações. Mas, diante das circunstâncias, não encontramos outra alternativa (fiz um gesto de aquiescência incentivando-lhe ao mesmo tempo a continuar).
— Bem, o caso é o nosso estado de saúde, meu e dela, pois ambos, aparentemente, são quase semelhantes, cujo estado não nos deixa ter momentos de descanso e a cada dia se torna mais agravante a situação, a ponto de estarmos desesperados e não encontrarmos remédios que possam trazer lenitivos e curas. Proveniente a isso, tomamos a resolução que julgamos ser a mais acertada: vir procurar o senhor. Não temos paz, não existe entendimento, vivemos açoitados pela dor atroz que nos impede a maioria dos nossos movimentos. Existem momentos em que somos incapazes até de nos alimentar, devido à minha péssima digestão e a uma úlcera gástrica de que ela é portadora. Passamos as noites acordados ou, às vezes, dopados por barbitúricos. Enfim, já procuramos vários meios: médicos, remédios, curandeiros, sessões espíritas etc. E nada, nada conseguiram até agora. Por fim, aqui estamos como se fosse a nossa última esperança!...
Enquanto ele relatava, a mulher balançava a cabeça em sinal de aquiescência e, algumas lágrimas furtivas, contidas a muito custo, por fim começaram a deslizar pelas faces já um tanto marcadas pela idade.
O homem se calou.
Coloquei-me em estado de recolhimento interno por alguns momentos e senti que meu silêncio para eles parecia uma eternidade.
Depois comecei a orientá-los.
Meus queridos filhos, existem dois pontos que parecem estar ligados indissoluvelmente nas criaturas humanas: A doença e os doentes!
É necessário que o indivíduo esteja bem situado, seja conhecedor do assunto para definir este cruciante impasse. E para isto é preciso que se saiba que na realidade só existem mais ou menos dez por cento de DOENÇAS REAIS, e que os possíveis noventa por cento são doenças psicossomáticas ou derivadas de outras fontes. Partindo deste princípio, vamos localizar realmente a razão para se chegar à conclusão se de fato o caso é uma doença REAL ou se é oriunda de alguma circunstância da qual é o possível criador da manifestação doentia.
Notem bem o ensinamento do Mestre Philippe, dito em 1894, no dia 31 de dezembro: ”Para conhecer a causa das doenças deveríamos conhecer a nós mesmos, quer dizer, saber de onde viemos, onde estamos e aonde vamos, o que ignoramos inteiramente no momento. E somente muito mais tarde, quando nossa alma tiver trabalhado suficientemente, poderemos saber”. Pelo dito, chegamos à conclusão de que, de fato, os nossos MALES nada mais são do que resultados daquilo que fizemos num pretérito. Assim sendo, através de um trabalho profícuo, de uma luta reparadora, tomando por base uma séria resipiscência, um campo positivo, modificarmo-nos, atenuando de alguma forma algo de mais grave pelo que às vezes se poderia passar. Objetivamente falando, se conscienciosamente nos analisarmos, possivelmente chegaremos a algum conhecimento da causa que nos proporciona tal ou qual doença ou MAL que atua no momento. Já que a doença não é um castigo de Deus, pois Ele não castiga. A doença é, sim, um FRUTO do que plantamos e estamos colhendo. Quanto pior tivermos sido no passado, maiores são os efeitos doentios pelo quais estamos passando ou teremos que passar. Obviamente, se formos conhecedores das causas, se poderá lutar na modificação interior para haver uma transmutação do MAL para o BEM. Assim, teremos a possibilidade de atenuar os nossos sofrimentos provindos de antanho. Todavia, grande número de aborrecimentos, de infelicidades, é resultado de muitas coisas que foram criadas nesta vida atual, pois, como sempre digo: O Sofrimento é oriundo de um desejo não satisfeito. Se soubermos desejar o possível, muitos danos poderemos evitar.
Também disse o Mestre Amo Philippe, em 4 de dezembro de 1893: “Se nossa alma não estivesse doente, nosso corpo tão pouco o seria”.
Observem que o corpo é o reflexo do estado da alma. Não me refiro ao estado de Espírito, porque a Alma é a SEDE do corpo de DESEJOS, onde todas as coisas são arquivadas e de onde elas emanam todos os EFEITOS, já que a causa está registrada lá. Assim, temos a felicidade de, através do nosso Livre Arbítrio, atenuar as causas para diminuir os efeitos. De modo que os achaques, as doenças, a infelicidade, podem ser aliviados pelas nossas atitudes atuais. Desta forma, inteligentemente podemos ser aquilo que quisermos. Porém, veja bem o que diz o Mestre Amo Philippe: “Uma doença pode durar muitas vidas e não estar terminada na morte do homem. É preciso que o MAL seja transformado em BEM”.
Logo, errado seria se pensar que com a morte seria posto fim a um sofrimento se este foi vivido dentro de um terreno de revolta. O certo é como já disse: É preciso lutar muito e fazer o BEM de qualquer maneira, de qualquer forma, sem olhar a quem. Nesta contextura vão se aplainando as dificuldades criadas no passado. E, evidentemente, criando um novo DESTINO.
Acredito que com esta explanação vocês conseguiram de alguma forma entender e sentir o porquê do estado em que se encontram. Pois sinto que, de acordo com o que disse, e mais algumas preces sinceras, cheias de resipiscências emanadas de vocês, o estado atual em que vocês se encontram irá passar por uma grande transformação e com isso virá a melhora.
Observem ainda o seguinte: Todo MAL está, portanto, dividido em dois fatores: A Doença Cármica e a Doença Psicossomática. As Doenças Cármicas são fruto de tudo aquilo que fizemos e, evidentemente, está sujeita ao pagamento do Mal cometido alhures. E, neste caso, se trata de um pagamento pessoal. Todavia, temos ainda responsabilidades adquiridas com os erros dos Familiares, das Comunidades, das Vilas, Cidades, Municípios, Estado, País e o Mundo. De forma que somos participantes de todos os Males da Humanidade e por isso estamos incluídos nas calamidades e estados epidêmicos que a assolam. Quando estes estados não nos atingem é porque não temos débitos para com eles. Caso contrário, temos que passar por aquilo, de acordo com os laços existentes por maus pedaços...
Mas, quando se trata só de causas pessoais, o fato é menos grave e pode na maioria das vezes amenizar e suavizar a situação...
— Senhor! Acredito ter compreendido a mensagem. Mas gostaria, se possível, de algo que pudesse pelo menos diminuir um pouco a nossa tormenta...
— Muito bem! Irei lhes fazer umas perguntas e espero que as respostas sejam dadas com toda a honestidade, com toda a lisura possível.
— Assim o faremos Mestre. Sejam elas quais forem, usaremos de toda a lealdade existente em nossos corações.
— Ótimo! Me respondam, então: Vocês estão dispostos a trabalhar individualmente por suas melhoras Internas, e a cuidar de alguém desvalido da sorte, dando-lhe todo o amparo, lar, carinho, proteção, amor etc? Pensem bem.
—Sim, Mestre. Assim o faremos.
—Pois, muito bem, a partir deste momento suas tormentas vão ser amenizadas, e na proporção em que se dedicarem ao trabalho de suas transformações, as tormentas irão diminuindo... Sumindo! Não esqueçam, entretanto, da ajuda pedida para alguém.
O casal me ouviu atentamente e notei que de imediato se sentiam mais aliviados. Tanto que, aproveitando o silêncio que se seguia, me disse a mulher:
—Ó, Mestre, obrigada por me fazer compreender e sentir o caminho pelo qual devo começar a percorrer. Sinto-me mais confortada e desejosa de trabalhar internamente a minha reestruturação e acredito que meu marido faz coro as minhas palavras.
Perfeitamente, querida, tanto que desejo perguntar ao Mestre o que devemos fazer para um dia sermos Expectantes...
Respondi-lhes: Ao saírem daqui, procurem viver dentro do Lema Expectante: Viva a Experiência Procurando Realizar a Pureza.
Com um “até a próxima vez”, nos despedimos...
Anos depois!... Quiseram os Mestres nos brindar com um encontro! O Casal... Eles haviam feito uma verdadeira transformação. A criatura que eles ajudaram e cuidaram, hoje, tornou-se quase um arrimo de família!... Ó, Mestres! Grato por proporcionarem aos seres humanos tanta bondade e tanto amor. Sei que o AMOR é o altar das almas puras. Nele, genuflexo, com gratidão, rezo por todos os seres!...