Por Sri Sevãnanda Swami, 2º Patriarca Expectante (e Delegado Geral da Ordem Martinista para a América do Sul em grande parte do Século XX).
Dado e traçado em 22 de agosto de 1958.
Na "Documentação de Conjunto", emanada do Supremo Conselho da Ordem, sito em Paris, e presidido pelo Dr. Philippe ENCAUSSE (filho de Papus e afilhado do Muito Excelso Mestre PHILIPPE), bem como na 5ª edição francesa do livro "LE MAÎTRE PHILIPPE, de LYON" (páginas 252 e seguintes), consta o mesmo texto que, para informação do público em geral, divulgamos com o caráter de documento OFICIAL da Ordem Martinista, a seguir:
O MARTINISMO do qual Papus era o Grão-Mestre da Ordem: Criada pelo Dr. Gérard Encausse (Papus), a Ordem Martinista moderna conheceu, até a morte física do saudoso vulgarizador do Ocultismo, um desenvolvimento considerável(1). A Ordem Martinista de Papus estava, efetivamente, representada tanto na velha Europa como nas colônias, nos Estados Unidos e na América do Sul. Sua influência exercia-se tanto entre os humildes quanto nos degraus de certos tronos, e não dos menores... Graças à ela, as ideias espiritualistas ganharam um terreno precioso numa época em que o materialismo dava a impressão de achar-se prestes a triunfar.
Em todos os corações onde uma vez penetrou, o Martinismo papusiano permitiu realizar as possibilidades de altruísmo que neles havia. Ele salvou da dúvida, da desesperação e, às vezes, do próprio suicídio, a muitos espíritos, tão verdadeiro é que a Luz atravessa os vidros mesmo quando embaçados e que ela ilumina todas as trevas físicas, morais e intelectuais.
No seu conjunto, a Ordem Martinista de Papus era antes de tudo uma escola de Cavalaria moral esforçando-se por desenvolver a espiritualidade dos seus membros, tanto pelo estudo de um mundo ainda desconhecido do qual, a ciência, até agora, não determinou todas as leis, quanto pelo exercício da dedicação e da assistência intelectual, e pela criação, em cada espírito, de uma Fé tanto mais sólida por ter como base a observação e a ciência.
O Martinismo de Papus constituía, portanto, uma Cavalaria do altruísmo oposta à liga egoísta dos apetites materiais, uma Escola onde se aprendia a retornar o dinheiro a seu justo valor de sangue social, e a não considerá-lo como algum divino influxo; finalmente, um Centro onde esforçar-se por permanecer impassível ante os turbilhões positivos ou negativos que transtornam a Sociedade.
Aberto aos homens como às mulheres, não pedindo de seus membros nenhum juramento de obediência passiva e não lhes impondo nenhum dogma, acolhendo sem distinção a todos aqueles que tinham no coração o amor pelo seu semelhante e que desejavam lutar pelo bem comum, o Martinismo papusiano tem dado a dezenas de milhares de homens e de mulheres a possibilidade de achar um refúgio na experiência e na filosofia dos Antigos e, como pontualizou o saudoso Téder: "Em presença deste regresso fatal para a Sabedoria da Antiguidade, que produziu Rama, Krishna, Hermes, Moisés, Platão e Jesus, o Martinismo, depositário das tradições sagradas, saiu da sua escuridão voluntária e abriu seus santuários de ciência aos Homens de Desejo capazes de compreender seus símbolos, estimulando aquele que é ardente, afastando o que é fraco, até que a seleção especial dos seus Superiores Incógnitos estivesse completa".
Formando real núcleo dessa universidade que tornará a fazer um dia o casamento do Conhecimento sem divisões com a Fé sem epítetos, o Martinismo papusiano tem-se esforçado por tornar-se digino de seu nome, estabelecendo grupos de estudo dessas ciências metafísicas e metapsíquicas desdenhosamente afastadas do ensino clássico sob o pretexto de serem ocultas.
Desde a morte de Papus, em 1916, - Papus, para quem a ação criadora revestia, em todos os domínios, particular interesse -, o Movimento Martinista em geral perdeu a sua unidade, como quiçá também parte da sua eficiência, e isso, seja qual for a personalidade dos "Grãos-Mestres" que sucederam-se à testa dos diferentes Agrupamentos surgidos após a morte do criador da Ordem.
É um fato que, para o profano, uma impressão bastante penosa nasce, às vezes, de todas essas discussões e retificações surgidas ora de Lyon, ora de Paris, com relação à "regularidade" dos sucessores de Louis Claude de Saint Martin e dos Agrupamentos criados por eles... Mas nem por isso convém menos render imparcialmente homenagem aos que, após Papus, com toda a boa fé e com ardente desejo de honrar, também eles, a memória de Louis Claude de Saint Martin, o "Filósofo Desconhecido", não pouparam nem seu tempo, nem seu esforço, nem sua saúde até, sob a égide: ou da Ordem Martinista Sinárquica, ou da Ordem Martinista de Lyon, ou da Ordem Martinista Tradicional, ou, finalmente, da Ordem Martinista Retificada, de criação bastante recente (1948) e cujo animador, Jules Boucher, deixou o nosso plano físico em junho de 1955.
A Ordem Martinista de Papus representava a tradição Ocidental, egípcia, pitagórica, cristã, kabalística, rosacruciana e gnóstica(2). Estudar a tradição ocidental em geral e cristã esotérica em particular, sob a égide do "Filósofo Desconhecido", tal era o plano de seus trabalhos.
Correspondia ao filho de Papus, rodeado de alguns amigos e admiradores de seu pai e do Mestre PHILIPPE, de Lyon, Mestre espiritual de Papus, retomar a tocha com vistas a dar nova vida ao Martinismo papusiano, cujas grandes linhas foram evocadas no início deste manifesto, e de criar um Movimento que se apoiará sobre a tradição sem negligenciar a ciência contemporânea.
Tal é a tarefa que ele fixou-se, com seus amigos, em 1951, formulando votos que esta nova organização conheça, graças à ajuda dos nossos queridos entes idos e à dos vivos, o mesmo sucesso que a sua predecessora no combate que convém travar para que triunfe a causa do Amor, do Belo e do Bem...
Após os termos, exatos, prudentes e fraternos, com os quais o Supremo Conselho da ORDEM MARTINISTA DE PAPUS - que tem como Grão-Mestre a seu próprio Filho, expõe, linhas acima, o estado de cousas do Martinismo, cabe dizer ainda isto: Como representane atual desta Ordem Martinista de Papus, tendo tido contato pessoal ou epistolar com os diferentes "Grãos-Mestres" (desde Bricaud, já falecido, até Dupont, octagenário sucessor no que à Ordem de Lyon se refere), bem como tendo dirigido, desde 1924, as Iniciações da Ordem (independente, porém na mesma orientação Papusiana) fundada na América do Sul pelo Mestre Cedaior (iniciado por Sédir e amigo de Papus) e, tendo ainda chefiado, desde 1936, a essa mesma Ordem, da qual pequeno número de componentes fundara uma dissidência, em 1942, no sul do Brasil; e, ainda, tendo resolvido FUNDIR o patrimônio de experiências e os remanescentes Membros dessa "Ordem" (agora extinta) no seio da "Ordem Martinista de Papus", devo manifestar que, tanto na Europa como fora dela, os diferentes "agrupamentos" não representam atividades ponderáveis e a maior parte deles entende - ou entenderá - que a UNIÃO sob a égide da Ordem que TEM A PROTEÇÃO DE MESTRE PHILIPPE, de PAPUS... E de muitos outros, até a do próprio Mestre CEDAIOR, é o melhor caminho, em todo sentido e, MUITO ESPECIALMENTE, na procura de um misticismo real, isto é: racional, ativo e prático.
As "Iniciações" serão outorgadas exclusivamente após requerimento e tese, em condições que estão sendo estudadas, procurando adaptar ao nosso ambiente as diretivas que o Supremo Conselho de Paris nos encaminhe.
(1) - Papus tinha-se interessado pelo Movimento Martinista e pelo seu desenvolvimento antes da criação (1891) da Ordem propriamente dita. Tinha sido consagrado S:.I.: por Delaage em 1882 e, desde 1884, realizaram-se Iniciações, pelos seus cuidados, na rua Rochechouart (Philippe Encausse).
(2) - Lembremos, a título histórico, que em 1911 foi assinado um tratado entre a Ordem Martinista representada por Papus e a Igreja Gnóstica Universal representada por Jean II (Bricaud) mediante o qual a I. G. U. tinha sido reconhecida como Igreja oficial do Martinismo.