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Método para amar ao próximo como a si mesmo

Método para amar ao próximo como a si mesmo

Por Thoth, 3º Patriarca, capítulo VII do livro Diálogos Iniciáticos, o Catecismo Expectante

Aquela noite estava destinada a ser memorável. Pois, era uma daquelas em que a Natureza parecia querer dar tudo de belo, tudo de bom. A Lua cheia iluminava com seus raios prateados o vasto jardim que se estendia um pouco além da casa, deixando espelhadas algumas estátuas colocadas em pontos estratégicos, proporcionando um aspecto fantasmagórico. Um pequeno repuxo deixava cair a água, formando uma cascata prateada correndo entre avencas e samambaias

Eram exatamente 19h30 quando o senhor José, depois de uma prece de agradecimento pela refeição que acabava de tomar, levantou-se e convidou os familiares dizendo: Vamos, meus queridos, gozar as delícias de alguns momentos no alpendre, aproveitando esta noite de Lua Cheia para descansar nossos corpos depois da luta diária.

Dona Maria com os filhos seguiram prazerosos o senhor José. Depois de acomodados, Paulo, o mais velho, dirigindo-se ao pai, disse: Na nossa última reunião ficou uma pergunta para ser elucidada, o que peço, se possível for, ouvir hoje a explanação. Foi sobre como devemos fazer e qual a maneira para se chegar a AMAR ao PRÓXIMO?

– Ótimo, esta é uma questão de suma importância, e espero que vocês prestem bem atenção. Antigamente, antes da vinda do Nosso Senhor Jesus-O-Cristo, a Lei que imperava era praticamente a “Pena de Talião”.

– “Mãnhêêê” – interrompeu Eliseu – o que é “Pena de Talião"?!?

– A Pena de Talião – respondeu Dª Maria – remonta à Lei de Moisés, cuja base era: Punição semelhante à ofensa, ou seja, para seu melhor entendimento: “Olho por olho e Dente por dente”! Com a vinda de Jesus, Ele trouxe a Lei do AMOR, que preconizava: “Que vos amai uns aos outros, assim como vos amei” (João, 15:12). Mas, vamos deixar o papai prosseguir...

– Muito bem, meus filhos, dando sequência ao que a mãe dissera, também está em São Mateus, 22:39, que diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. É interessante se observar a maneira diferente, mas com a mesma finalidade, com que se expressou o amado Mestre Jesus. Ele dava desta forma maior amplitude e possibilidade de uma possível aplicação da Lei num futuro, para que as pessoas, através do esforço próprio, pudessem atingir qualquer uma das citações ditadas por ele, demonstrando que sempre há uma elasticidade para aquele que se propõe a fazer algum esforço sobre qualquer objetivo.

Ele, dizendo “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”, é preciso fazer um esforço inaudito para se ter uma formação espiritual parecida com a do Mestre, e isto é para nós impossível nesta encarnação. Porém, em alguma época remota, poder-se-á, talvez, chegar ao objetivo...

No entanto, Ele, conhecendo nossa fraqueza, abriu uma porta para que pudéssemos ter alguma oportunidade de atingir a meta, de algum dia chegar a praticar o ensinamento “Amar ao próximo com a ti mesmo”.

E é baseado nessa análise que transmitirei o que a Igreja Expectante vem nos ensinar sobre como podemos realizar tal evento “AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO”!

Observem que todas as Religiões, Credos, Seitas e Filosofias que seguem o Cristianismo ditam normas como bases para a Evolução Espiritual. No entanto, até o presente momento, só conheço a Igreja Expectante que nos dá a possibilidade de, através de treinamentos perseverantes, e até em alto grau obstinados, que nos acena com uma possível realização do objetivo a ser alcançado, ou seja, amar ao próximo como a nós mesmos!...

Ela divide o treinamento em três etapas:

– SOLIDARIEDADE

– FRATERNIDADE

– IGUALDADE

Estas palavras me são muito conhecidas, por terem sido empregadas no decorrer dos tempos muitas vezes, mas não com a finalidade a que aqui se propõem. Vejamos:

SOLIDARIEDADE

Jamais podemos desenvolver o AMOR indiscriminado, o AMOR impessoal, o AMOR que é diferente daquele que dedicamos aos nossos familiares do primeiro grau, sem que não se ponha em prática a SOLIDARIEDADE. Porque ele é o primeiro passo a ser dado, por ser a primeira manifestação de um sentimento mais puro, mais elevado, que sai do interior do ser humano. Verifiquem que, quando fazemos algum ato de solidariedade com alguém, imediatamente parte de dentro de nós um sentimento incontido de alegria, uma satisfação indefinível nos invade.

A Solidariedade não tem uma característica definida. Ela pode ser empregada nos menores gestos, nas menores atenções, como ajudar um cego ou uma senhora idosa a atravessar uma rua movimentada. Até ter atitudes altruísticas na prática diária, constante, em ajudar o próximo, se vai desenvolvendo um sentimento mais profundo, maior, com relação aos outros, especialmente com os estranhos. Observem o que diz São Lucas, 5:32: “Se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Porque também os pecadores amam aos que os amam”. Também nos é dito um ensinamento pelo Excelso Mestre Amo Philippe, o qual vem ao encontro deste: “É preciso fazer aquilo que menos se gosta. Fazer o que se gosta, que valia tem?”.

Logo, se deduz que, pelo dito, a Solidariedade praticada é o veículo primário a se lançar mão para o desenvolvimento do AMOR generalizado, o AMOR sem vínculos familiares!... E nessa prática se deve levar no mínimo de um ano a dois anos ininterruptos.

Temos agora a segunda fase, ou seja, o segundo treinamento:

FRATERNIDADE

Depois de termos levado o período necessário para nos habituar a viver com a Solidariedade sem que ela já não nos custe praticá-la, ou seja, depois que ela se torne um hábito normal na nossa vida, então, só aí é que devemos iniciar o trabalho intenso de praticar a FRATERNIDADE.

Observem bem que a Fraternidade citada não é a fraternidade consanguínea, de irmão para irmão, pois esta é, às vezes, uma fraternidade em que os amores passam de longe. Basta, para isso, que haja uma quebra de interesses financeiros, em que um prejudique o outro, ou coisas que venham a ferir as suscetibilidades, os procedimentos de um para com o outro. Existem muitos outros senãos que levam, às vezes, um irmão a odiar o outro. Lógico é, pois, não ser esta fraternidade o objeto que sirva de exemplo para o exercício daquilo que desejamos.

A FRATERNIDADE em questão é aquela em que, depois de termos vivido bem a Solidariedade, já não nos custa tanto praticá-la. Mesmo porque uma está intensamente ligada à outra, e muitas vezes é tão grande a ligação que dá para confundi-las...

Quando se chega ao grau da Fraternidade, a criatura humana passa a SENTIR, sem que seja necessário se dizer, a necessidade, o sofrimento e, por que não dizer, às vezes, até a DOR de outra pessoa. Ser fraterno é estar interligado com os OUTROS SERES!... Quando se chega a este estado, o AMOR impessoal já está bem florescente dentro de nós!

– Puxa vida, como isto é belo, e como é difícil de realizar – exclamou Helena – com uma admiração incontida. E ela perguntou:

– Se para a Solidariedade o senhor disse que o tempo de treinamento deveria ser de um a dois anos, no mínimo, quanto deverá ser o da Fraternidade?

– Ótimo, minha querida, disse o senhor José. Observe que eu falei no mínimo, pois, nestas cousas não se pode e não se deve prefixar datas, porque tudo depende da capacidade, da perseverança, do REAL interesse da criatura. Uns podem realizar de maneira mais rápida. Outros, em longo prazo. Em sã consciência, não se deve determinar nenhum tempo. Mesmo porque, se assim procedêssemos, estaríamos interferindo no Livre-Arbítrio da criatura...

É necessário, pois, praticar a Fraternidade em todos os momentos, aproveitando todos os desejos que se nos apresentarem, sem escolher o tipo dizendo “esta é fácil, ou esta é difícil, é impossível de fazer”. O praticante deve se lançar a fundo.

Note bem, isto deve ser feito sem procurar pensar, medir ou dizer “estou semeando para colher depois, se eu fizer o bem o receberei depois em dobro”. Compreenda que o reino do Céu não necessita de contabilistas. Tudo deve ser feito pelo simples prazer de se fazer.

Quando a criatura chegar a esse estágio já estará AMANDO a seu próximo, mas ela só vai perceber quando estiver consciente do terceiro treinamento:

IGUALDADE

– Bravo, papai – exclamou Paulo. Esta está sendo mesmo a melhor dissertação, na qual se transmite a oportunidade para desenvolver o AMOR IMPESSOAL, Ilimitado. Espero poder ter fôlego e capacidade para SENTIR e VIVER com a devida compreensão o terceiro treinamento. Dá ainda para ser dito hoje?

– Sim, querido filho. Sei que a dose está sendo grande hoje, mas vamos aproveitar esta noite de vibração proporcionada pela Lua Cheia. A não ser que vocês já estejam cansados. Caso contrário, continuarei.

O senhor José ouviu o sim uníssono de aprovação.

Muito bem, então vamos aproveitar os momentos maravilhosos com que somos agraciados.

Depois de decorridos quatro, cinco ou seis anos na prática da Solidariedade e Fraternidade, e se a criatura conseguir realizar o seu intento, ela agora já é possuidora de uma dosagem de AMOR que se poderia considerar invejável, mas ainda não atingiu o ápice do conhecimento, o qual irá encontrar através da prática da IGUALDADE.

Ora, se o ser já é detentor da Solidariedade e da Fraternidade, fácil será entender, compreender e SENTIR que aquela criatura que está passando, ou está sentada na calçada, coberta de trapos, suja, fedorenta, doente, com feridas às vezes expostas, esquálida, faminta, esta criatura teve o mesmo processo de fecundação, gestação e nascimento. A sua estrutura óssea é semelhante à nossa. Seus átomos, células e moléculas são das mesmas fontes. Todo o seu corpo é semelhante ao nosso. A morte será o término de sua vida. Assim também será o nosso fim, pois ela é a grande niveladora de todas as coisas!...

A ÚNICA diferença entre a pobre criatura e nós se origina no berço onde se deu o nascimento. Com isso, vem a possibilidade de educação, posição, dinheiro e tudo isso proporciona meios de superioridade material em relação à outra. Portanto, podemos também compreender que todas as coisas que ela possui de maldade eclodem de maneira ativa e motivada pela sua posição. Enquanto nós, pela educação recebida, pela facilidade de viver, tivemos a possibilidade de esmagar, fazer calar os sentimentos negativos, mas eles continuam dentro de nós, em estado latente. Não se iludam. Eles estão sempre prontos a explodir no momento oportuno, nos dando a entender que ninguém em sã consciência pode dizer “Eu jamais farei isso ou aquilo”, porque, um belo dia estará procedendo, às vezes, da mesma forma, quiçá de maneira um pouco diferente.

Logo, pergunto: Onde está FUNDAMENTADA a grande diferença?!? Assim sendo, somos todos iguais. Quer queiram ou não... E aqui está o verdadeiro sentido da IGUALDADE. Quando chegarmos de fato a esta conclusão, o nosso Orgulho, a nossa Vaidade e Presunção se arrefecerão e passaremos a olhar nossos semelhantes como uma cópia nossa, advindo, através disso, uma onda de simpatia e o possível AMOR!...

Dª Maria, Paulo, Helena e Eliseu ficaram cabisbaixos, pensativos. Foi preciso o senhor José interromper o silêncio dizendo: Meus queridos, hoje passou um pouco do nosso horário. Peço desculpas se lhes cansei com a dissertação.

– Não, querido, – interveio D. Maria – foi excelente. É que o tema é deveras importante e os esclarecimentos nos deixaram apreensivos devido à profundidade deles.

– É, papai, – disse Helena – nós agradecemos. Todavia, como tarda, pedimos sua bênção e licença para nos recolhermos.

E todos disseram: Boa noite!

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